Motorista de ônibus mostra realidade da profissão em Belém

Conheça a rotina do ex-almoxarife que ganha a vida na direção dos coletivos que circulam pelo trânsito caótico da capital paraense


Edson Pedro Miranda Souza, um senhor humilde e trabalhador de 57 anos. Com uma expressão notoriamente cansada, mas com uma vida digna de respeito. Seu Edson exerce a profissão de motorista de ônibus. Atualmente, trabalha na empresa Via Luz, dirigindo a linha Pedreira-Condor.
Quando mais novo trabalhava como almoxarife, aquele que exerce a função de controle de materiais de uma empresa. Com a profissão em crise, teve que recorrer a outra área de atuação. Foi então que surgiu uma oportunidade, aquele famoso “bico”. Um amigo o convidou para trabalhar temporariamente como cobrador de ônibus em uma empresa que se chamava Dom Manoel. Conseguindo entrar na empresa, seu Edson quis mudar de cargo para motorista. Tirou sua carteira categoria D e ficou tentando. Até que em 2006, 17 anos depois, finalmente conseguiu o cargo.
Quando lhe perguntam sobre o valor de seu trabalho, seu Edson diz se sentir muito desvalorizado, isso de forma geral. Principalmente pelas pessoas que são passageiros. Para ele, toda profissão tem um mau profissional. Ele assume não ser perfeito, mas faz o seu trabalho com respeito e educação. Um exemplo disso é quando ele para em local que não é parada de ônibus, mas faz isso apenas quando é um idoso e dá um jeitinho de parar. Primeiro, pelo respeito que tem com o próximo; segundo, pela educação que recebeu dos seus pais; e terceiro,  porque um dia ele será um idoso também.
Alem da desvalorização ser algo bem presente na sua rotina de trabalho, seu Edson precisa lidar com o estresse provocado pelo trabalho. Pesquisa da Confederação Nacional do transporte (CNT), de 2017, diz que 57% dos motoristas de ônibus consideram a profissão desgastante e estressante.
Mesmo não tendo feito parte dessa pesquisa, seu Edson se inclui nesse meio, pois passa por isso todos os dias. Primeiro com os passageiros, que mesmo estando errados se acham na razão. E a maioria, senão todos, ofende, xinga e alguns partem até para a violência. O outro motivo é pelo trânsito, que se torna cada dia mais estressante. Seu Edson se mostra revoltado com aqueles motoristas que aparentam ter comprado a carteira de habilitação. Com 21 anos nesse trabalho, ele afirma ter batido na traseira de um taxista apenas uma vez, quando rodava na linha Paar-Ceasa, mas admitiu que o motorista do táxi estava certo e ele, errado.
Perguntado se largaria essa profissão por outra, a resposta não surpreende: com certeza largaria. Principalmente se for algo melhor, tanto financeiramente quanto no trabalho em si. Essa é a rotina de apenas um de milhões de trabalhadores brasileiros que passam por dificuldades todos os dias. Mas que seguem em frente.
Por Victoria Batista. Vídeo: Lucas Sarah.

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